A geração de homens que não aprendeu a desaprender
17 de julho de 2019Trabalho interdisciplinar nos anos finais
17 de julho de 2019*Profa. Dra. Maria José da Costa Oliveira –
Estamos vivendo a aventura contraditória da sociedade moderna. De uma lado, o ser humano vem ficando mais crítico, mais informado, mais reivindicador de seus direitos, mais intolerante e, ao mesmo tempo, mais isolado e com medo do próprio ser humano.
Tal contradição pode ser atribuída a inúmeras causas, em especial, aos crescentes problemas sociais. Entretanto, ao analisar a sociedade moderna, não podemos deixar de incluir o papel preponderante que o avanço tecnológico vem desempenhando, a ponto de evidenciar a contradição exposta acima.
Enquanto promove a aproximação, a informação em tempo real, a velocidade da disseminação de conhecimento, também provoca o isolamento, a falta de contato humano, a falta de mais envolvimento emocional entre as pessoas. A própria linguagem dos veículos de vanguarda acaba sendo mais objetiva, mais direta, mais racional.
Já li e concordo com autores que dizem que a tecnologia não é boa nem má, pois é a forma como a aplicamos que lhe dá sentido ético. Porém, percebo que o ser humano deslumbra-se ou assusta-se com os avanços tecnológicos, esquecendo-se de que a tecnologia deve ser usada em seu favor e não acima ou contra ele.
Não pretendo aqui levantar a bandeira anti tecnologia, mas é preciso promover um repensar sobre sua utilização para o benefício da humanidade, uma vez que é comum verificarmos a exclusão daqueles que não têm acesso às novas tecnologias. É comum, também, ver a máquina substituindo e sendo mais valorizada do que o ser humano, ou celulares e internet fazendo com que o indivíduo tenha que se dedicar integralmente ao trabalho, pois, como a informação é em tempo real, a qualquer hora do dia ou da noite, acaba-se com a privacidade, com o tempo dedicado aos amigos, à família, enfim, aos outros papéis que todos nós temos necessidade de assumir.
Há alguns anos houve quem arriscasse previsões, garantindo que as novas tecnologias propiciariam mais tempo para o lazer, mais tempo para desempenhar outros papéis, além do papel profissional.
Contudo, temos testemunhado o inverso dessa previsão. O tempo de lazer tem diminuído, o tempo com a família e amigos tem ficado cada vez mais escasso. Isso pode ser comprovado com a crescente fragilidade da estrutura familiar.
É tempo de perguntarmos: O que queremos para nós e para a nossa sociedade? Qual o custo/benefício dos avanços tecnológicos?
Alguns podem dizer que o questionamento vem de quem não sabe administrar seu tempo, de quem é resistente aos novos tempos, de quem procura desculpas para as suas deficiências no conhecimento dos mais variados softwares.
Talvez tenham razão, mas penso que a maioria de nós não sabe equilibrar a utilização das novas tecnologias de forma que esta passe a servir ao ser humano e não o contrário.
Até a educação temos perdido com a tecnologia. As pessoas deixam de dar atenção para quem está à sua frente e se voltam muito mais às mensagens por celular, iphone, ipad, ficando mais ligadas às redes sociais e-mails do que ao interlocutor que está bem à sua frente.
Muitos se enchem de orgulho para dizer que têm quinhentos, mil, dois mil amigos/seguidores nas redes sociais, mas não encontram tempo para o contato pessoal com pessoas realmente importantes em sua vida.
Assim, espero estar errada, mas fico receosa que essa falta de equilíbrio entre as relações virtuais e presenciais leve a máquina a um avanço muito superior se comparada ao ser humano.
Maria José da Costa Oliveira é Pós-doutora, doutora e mestre pela USP. Pós-Graduada em Marketing – Faculdades São Judas, Graduada em Comunicação Social – Relações Públicas pela UMC e palestrante da AP